Alcoolismo

Alcoolismo
Alcoolismo
"Bêbado": pintura de 1868 de Albert Anker
Sinónimos Síndrome de dependência alcoólica
Especialidade Psiquiatria,toxicologia
Sintomas Consumo de grande quantidade de álcool durante um longo período de tempo, dificuldade em consumir poucas quantidades, o consumo de álcool ocupa uma parte significativa do tempo, o consumo causa problemas, tolerância ao álcool, sintomas de abstinência quando se interrompe o consumo[1]
Complicações Perturbações mentais, Síndrome de Wernicke-Korsakoff, arritmia cardíaca, cirrose, cancro, desordens do espectro alcoólico fetal[2][3][4]
Duração Crónica[1]
Causas Fatores ambientais e genéticos[3]
Fatores de risco Stresse, ansiedade, fácil acesso[3][5]
Método de diagnóstico Questionários, análises ao sangue[3]
Tratamento Desintoxicação geralmente com benzodiazepinas, aconselhamento psiquiátrico, medicação[6][7][8]
Medicação Acamprosato, dissulfiram, naltrexona[6][7][8]
Frequência 208 milhões / 4,1% adultos (2010)[9][10]
Mortes 3,3 milhões / 5,9%[1]
Classificação e recursos externos
CID-10 F10
CID-9 303
CID-11 714690795
OMIM 103780
DiseasesDB alcoholism
MedlinePlus 000944
MeSH D000437
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Alcoolismo é um termo amplo para descrever qualquer consumo de álcool que cause problemas de saúde físicos ou mentais.[11] Em medicina, o alcoolismo define-se pela presença de duas ou mais das seguintes condições: consumo de grande quantidade de álcool durante um longo período de tempo, dificuldade em consumir poucas quantidades, a aquisição e consumo de álcool ocupam uma parte significativa do tempo da pessoa, o álcool é intensamente desejado, o consumo causa o incumprimento de responsabilidades e obrigações, o consumo causa problemas de saúde, o consumo está na origem de comportamentos de risco, ocorrem sintomas de abstinência quando se interrompe o consumo, ou o corpo já desenvolveu tolerância ao álcool.[1] Entre os comportamentos de risco estão a condução sob efeito do álcool ou ter relações sexuais desprotegidas.[1] Embora o abuso de álcool possa afetar qualquer parte do corpo, afeta sobretudo o cérebro, coração, fígado, pâncreas e o sistema imunitário.[3][4] As complicações mais comuns são perturbações mentais, síndrome de Wernicke-Korsakoff, arritmia cardíaca, cirrose e aumento do risco de cancro.[3][4] Durante a gravidez, o alcoolismo pode causar lesões no feto que resultam em desordens do espectro alcoólico fetal.[2] As mulheres são em geral mais sensíveis do que os homens aos efeitos adversos do álcool.[9]

O alcoolismo está associado a fatores de risco ambientais e genéticos em igual proporção.[3] Uma pessoa cujo pai ou irmão tem alcoolismo apresenta uma probabilidade três a quatro vezes superior de vir ela própria a tornar-se alcoólica.[3] Entre os fatores ambientais estão influências sociais, culturais e comportamentais.[12] O risco é aumentado pelo stresse, ansiedade e fácil acesso a bebidas alcoólicas.[3][5] Quando um alcoólico interrompe o consumo, manifestam-se sintomas de abstinência que podem levar a pessoa a continuar a consumir para prevenir ou aliviar esses sintomas. Em alguns casos, os sintomas de abstinência manifestam-se de forma ligeira durante meses após a interrupção.[3] Em termos médicos, o alcoolismo é considerado uma doença tanto física como psicológica.[13][14] O diagnóstico de alcoolismo pode ser auxiliado por questionários e análises ao sangue.[3]

A prevenção do alcoolismo consiste na regulamentação e limitação da venda de bebidas alcoólicas, em taxar o álcool para aumentar o custo de aquisição e em disponibilizar tratamento a baixo custo.[15] O tratamento é feito em várias etapas.[7] A interrupção do consumo deve ser controlada, uma vez que a abstinência pode levar ao aparecimento de problemas de saúde.[7] Um dos métodos de controlo mais comuns nesta etapa é a administração de benzodiazepinas como o diazepam.[7] Durante esta etapa, a pessoa pode ser internada numa instituição de saúde ou manter-se em casa sob vigilância atenta da família, amigos ou médicos.[7] A presença de perturbações mentais ou outras dependências pode complicar o tratamento.[16] Após a etapa de desintoxicação, a terapia de grupo ou os grupos de apoio são medidas eficazes que ajudam a pessoa a não voltar a consumir.[6][17] Um das formas de apoio mais comum são os grupos de Alcoólicos Anónimos.[18] Nesta etapa, os medicamentos acamprosato, dissulfiram ou naltrexona ajudam a prevenir recaídas.[8]

A Organização Mundial de Saúde estima que em 2010 existissem 208 milhões de pessoas com alcoolismo em todo mundo, o que corresponde a 4,1% da população com mais de 15 anos de idade.[9][10] A condição é mais comum entre homens e jovens adultos, e vai-se tornando menos comum na meia-idade e na terceira idade.[3] A prevalência é menor em África (1,1%) e maior na Europa de Leste (11%).[3] Em 2013 o alcoolismo foi a causa direta de 139 000 mortes, um aumento em relação às 112 000 mortes em 1990.[19] Estima-se que 3,3 milhões de mortes (5,9% de todas as mortes num ano) tenham origem no consumo de álcool.[1] Em média, o alcoolismo diminui a esperança de vida em aproximadamente dez anos.[20] O alcoolismo é fonte de estigma social, sendo comum o uso de termos pejorativos para descrever as pessoas afetadas por esta condição.[21] No passado, a perturbação dividia-se em dois tipos: abuso de álcool e dependência de álcool.[1][22] Em 1979, a Organização Mundial de Saúde desencorajou o uso do termo "alcoolismo" devido ao seu significado impreciso, preferindo o uso do termo "síndrome de dependência alcoólica".[23]

  1. a b c d e f g «Alcohol Use Disorder: A Comparison Between DSM–IV and DSM–5». Novembro de 2013. Consultado em 9 de maio de 2015. Cópia arquivada em 18 de maio de 2015 
  2. a b «Fetal Alcohol Exposure». Consultado em 9 de maio de 2015. Cópia arquivada em 4 de abril de 2015 
  3. a b c d e f g h i j k l m Association, American Psychiatric (2013). Diagnostic and statistical manual of mental disorders : DSM-5. 5 ed. Washington, D.C.: American Psychiatric Association. pp. 490–497. ISBN 9780890425541 
  4. a b c «Alcohol's Effects on the Body». Consultado em 9 de maio de 2015. Cópia arquivada em 3 de junho de 2015 
  5. a b Moonat, S; Pandey, SC (2012). «Stress, epigenetics, and alcoholism.». Alcohol research : current reviews. 34 (4): 495–505. PMC 3860391Acessível livremente. PMID 23584115 
  6. a b c Morgan-Lopez AA, Fals-Stewart W (maio de 2006). «Analytic complexities associated with group therapy in substance abuse treatment research: problems, recommendations, and future directions». Exp Clin Psychopharmacol. 14 (2): 265–73. PMC 4631029Acessível livremente. PMID 16756430. doi:10.1037/1064-1297.14.2.265 
  7. a b c d e f Blondell RD (fevereiro de 2005). «Ambulatory detoxification of patients with alcohol dependence». Am Fam Physician. 71 (3): 495–502. PMID 15712624 
  8. a b c Testino, G; Leone, S; Borro, P (dezembro de 2014). «Treatment of alcohol dependence: recent progress and reduction of consumption.». Minerva medica. 105 (6): 447–66. PMID 25392958 
  9. a b c Global status report on alcohol and health 2014 (PDF). [S.l.]: World Health Organization. 2014. p. s8,51. ISBN 9789240692763. Cópia arquivada (PDF) em 13 de abril de 2015 
  10. a b «Global Population Estimates by Age, 1950–2050». Consultado em 10 de maio de 2015. Cópia arquivada em 10 de maio de 2015 
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  12. Agarwal-Kozlowski K, Agarwal DP (abril de 2000). «[Genetic predisposition for alcoholism]». Ther Umsch. 57 (4): 179–84. ISSN 0040-5930. PMID 10804873. doi:10.1024/0040-5930.57.4.179 
  13. Mersy, DJ (1 de abril de 2003). «Recognition of alcohol and substance abuse.». American Family Physician. 67 (7): 1529–32. PMID 12722853 
  14. «HEALTH AND ETHICS POLICIES OF THE AMA HOUSE OF DELEGATES» (PDF). Junho de 2008. p. 33. Consultado em 10 de maio de 2015. Cópia arquivada (PDF) em 20 de março de 2015. H-30.997 Dual Disease Classification of Alcoholism: The AMA reaffirms its policy endorsing the dual classification of alcoholism under both the psychiatric and medical sections of the International Classification of Diseases. (Res. 22, I-79; Reaffirmed: CLRPD Rep. B, I-89; Reaffirmed: CLRPD Rep. B, I-90; Reaffirmed by CSA Rep. 14, A-97; Reaffirmed: CSAPH Rep. 3, A-07) 
  15. World Health Organization (janeiro de 2015). «Alcohol». Consultado em 10 de maio de 2015. Cópia arquivada em 23 de maio de 2015 
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  18. Tusa, AL; Burgholzer, JA (2013). «Came to believe: spirituality as a mechanism of change in alcoholics anonymous: a review of the literature from 1992 to 2012.». Journal of addictions nursing. 24 (4): 237–46. PMID 24335771. doi:10.1097/jan.0000000000000003 
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  20. Schuckit, MA (27 de novembro de 2014). «Recognition and management of withdrawal delirium (delirium tremens).». The New England Journal of Medicine. 371 (22): 2109–13. PMID 25427113. doi:10.1056/NEJMra1407298 
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  22. Hasin, Deborah (dezembro de 2003). «Classification of Alcohol Use Disorders». Pubs.Niaaa.Nih.gov. Consultado em 28 de fevereiro de 2015. Cópia arquivada em 18 de março de 2015 
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