Anacronismo (do grego ἀνά "contra" e χρόνος "tempo") é qualquer parecer, leitura ou julgamento sobre um acontecimento ou elemento histórico de maneira a situá-lo numa temporalidade distinta da sua época original. Apesar de ser uma palavra de estrutura morfológica derivada do grego, só passou a ter um sentido cronológico a partir do século XVI. O surgimento da noção moderna de anacronismo é situado por Herman Ebeling em De Emendatione Temporum (1583) de Joseph Justus Scaliger, publicado um ano após o estabelecimento do calendário gregoriano e que apontava inúmeros erros de cronologia existentes em fontes antigas. O anacronismo depende da percepção de um tempo único, que serve de referência para avaliações adequadas tendo em vista o processo de sincronização de diferentes temporalidades. Esse processo de sincronização, permitiu que Joseph Justus Scaliger dividisse o anacronismo em dois: o procronismo, ou anacronismo "de ontem para hoje"; e o metacronismo, ou anacronismo "de hoje para ontem". Comumente é tido como um erro cronológico, expressado na falta de alinhamento, consonância ou correspondência com uma época. Ocorre quando pessoas, eventos, palavras, objetos, costumes, sentimentos, pensamentos ou outras coisas que pertencem a uma determinada época são retratados noutra época. O anacronismo também pode ser usado intencionalmente para fins de retórica, propaganda, comédia ou choque. Anacronismos não intencionais podem ocorrer quando um escritor, artista ou performer desconhece as diferenças de tecnologia, terminologia e linguagem, costumes e atitudes, ou mesmo modas entre diferentes períodos e épocas históricas. De forma geral, o termo anacronismo pode estar associado a características negativas ou positivas. Em sua negatividade, ele é um indicador de ausência de consciência histórica e remete ao erro cronológico característico da forma de pensar pré-moderna. Em sua positividade, está ligado à presença da consciência histórica, surgida na Modernidade, que reconhece as múltiplas temporalidades existentes ao longo da história e as diferenças entre elas.
Ao menos desde o século XII europeu, há indícios escritos e imagéticos da percepção humana sobre a diferença qualitativa entre passado e presente, que os tornaram tempos únicos e singulares. No século XIV, o sentimento de distância temporal entre passado e presente se difunde na Europa. Tal noção se aprofunda e dissemina ainda mais ao longo do Renascimento europeu, em especial com a Reforma Protestante, quando se enxerga o presente como um momento de declínio, gerando um novo sentido de passado. É por volta de 1650 que eruditos religiosos como Dionísio Petávio, Piero Sforza Pallavicino, Jacques Bossuet e Pierre-Daniel Huet difundem a palavra anacronismo, tanto em latim - anachronicus - quanto em italiano, francês e inglês. O surgimento do senso de anacronismo, por sua vez, está ligado a figuras de artistas, especialmente italianos, sendo um importante marco na história cultural europeia. O século XVIII é um momento importante para o desenvolvimento do sentimento de anacronismo pois é quando surge a ideia de História enquanto a unificação de histórias particulares, o abandono da percepção do passado como repositório de lições morais e a solidificação da percepção que a pesquisa histórica é realizada e orientada por um sujeito - o historiador - que tem uma subjetividade. Já nos séculos XX e XXI, são os historiadores da arte que lideram essa discussão.
Embora fortemente criticada no meio histórico, a visão do anacronismo como um pecado da historiografia não foi superada. Estudiosos feministas, pós-coloniais e marxistas são os mais acusados de anacronismo por utilizarem um conjunto de conceitos alheios ao período que estudam. Em contra partida, abordagens procurando se distanciar de rótulos pejorativos têm lançado mão de perspectivas que fomentam o uso da meticulosidade e uma perspectiva criteriosa nas análises de passado e presente. No combate às acusações profissionais e o tabu do anacronismo, é trazida a perspectiva de Marc Bloch, que pensava o anacronismo como inevitável, intrínseco e mesmo necessário a prática historiográfica, uma vez que historiadores trariam consigo, ao fazer história, sua própria época.