Anekantavada

Anekāntavāda (Devanágari: अनेकान्तवाद) é uma das mais importantes e fundamentais doutrinas do jainismo. Refere-se aos princípios do pluralismo e da multiplicidade de pontos de vista, em que a verdade e a realidade são entendidos de forma diferente consoante a perspectiva, e que nenhum ponto de vista consegue abranger toda a verdade.[1][2]

Os jainistas contrapõem todas as tentativas de proclamar a verdade absoluta com adhgajanyāyah, o qual pode ser compreendido com a seguinte parábola dos "cegos e do elefante". Nesta história, cada cego sentia uma parte distinta do elefante (tronco, perna, orelha, etc.). Todos os cegos afirmavam compreender e explicar a verdadeira aparência do elefante, mas só o conseguiam fazer de forma parcial devido às suas perspectivas limitadas.[3] Este princípio pode ser explicado de forma mais formal pela observação dos objectos. Os objectos são infinitos quanto às suas qualidades e formas de existência e, sendo assim, a percepção limitada do ser humano não consegue compreender todos os seus aspectos e formas. De acordo com os Jainistas, apenas os Kevalis — seres omniniscientes, que sabem tudo — conseguem compreender todos os aspectos e formas dos objectos; todos os outros seres apenas são capazes de perceber parcialmente o conhecimento.[4] Assim, nenhum ponto de vista humano pode reclamar para si a verdade absoluta.

A origem da anekāntavāda remonta aos ensinamentos de Mahavira (599–527 a.C.), o 24º Jainista Tīrthankara. Os conceitos dialéticos de syādvāda "pontos de vista condicionados" e nayavāda "pontos de vista parciais" nascem da anekāntavāda, enriquecendo-a com uma expressão e estruras lógicas mais detalhadas. O conceito Sânscrito an-eka-anta-vāda significa, literalmente, "doutrina de não-exclusividade ou múltiplos pontos de vista (an- "negação/ausência", eka- "um", vada- "ponto de vista")". An-ekānta "incerteza, não exclusividade" é o oposto de ekānta (eka+anta) "exclusividade, incondicionalidade, necessidade" (ou também "doutrina monoteística").

A Anekāntavāda encoraja os seus seguidores a ter em conta as perspectivas e opiniões dos seus opositores. Os proponentes da anekāntavāda aplicam este princípio à religião e à filosofia, nunca se esquecendo que qualquer religião ou filosofia — até o próprio jainismo - que esteja muito presa de forma dogmática aos seus próprios princípios, está a cometer um erro em relação ao seu ponto de vista limitado.[5] O princípio da anekāntavāda também levou Mohandas Karamchand Gandhi a adoptar os princípios de tolerância religiosa, ahiṃsā e satyagraha.[6]

  1. Dundas, Paul (2004). «Beyond Anekāntavāda : A Jain approach to religious tolerance». In: (ed.) Tara Sethia. Ahimsā, Anekānta, and Jaininsm. Delhi: Motilal Banarsidass Publ. pp. 123–136. ISBN 81-208-2036-3 
  2. Koller, John (2004). «Why is Anekāntavāda important?». In: (ed.) Tara Sethia. Ahimsā, Anekānta, and Jaininsm. Delhi: Motilal Banarsidass Publ. pp. 400–07. ISBN 81-208-2036-3 
  3. Hughes, Marilynn (2005). The voice of Prophets. Col: Volume 2 of 12. Morrisville, North Carolina: Lulu.com. pp. 590–591. ISBN 1-4116-5121-9 
  4. Jaini, Padmanabh (1998). The Jaina Path of Purification. New Delhi: Motilal Banarsidass. 91 páginas. ISBN 81-208-1578-5 
  5. Huntington, Ronald. «Jainism and Ethics». Consultado em 18 de julho de 2007. Cópia arquivada em 19 de agosto de 2007 
  6. Hay, Stephen N. (1970). «Jain Influences on Gandhi's Early Thought». In: (ed.) Sibnarayan Ray. Gandhi India and the World. Bombay: Nachiketa Publishers. pp. 14–23 

From Wikipedia, the free encyclopedia · View on Wikipedia

Developed by Tubidy