Contrailuminismo

O contrailuminismo (pré-AO 1990: contra-iluminismo) ou anti-iluminismo foi uma tendência filosófica iniciada ainda durante o século XVII que se opunha aos ideais iluministas ou ilustrados. Em contraponto à valorização da razão, da liberdade, da igualdade e dos ideais liberais em geral, o contra iluminismo defendia as antigas ideias conservadoras, religiosas, hierárquicas e autoritárias.

Embora a tendência tenha tido seu auge durante o século XVIII, o termo que o designava apenas seria popularizado no século XX pelo filósofo Isaiah Berlin.[1] Pessoas a partir de meados do século XX usaram o termo contrailuminismo para descrever correntes de pensamento que surgiram no final do século XVIII e início do século XIX em oposição ao Iluminismo do século XVIII.[2]

O filósofo Jean-Jacques Rousseau fez várias observações críticas sobre a razão em seu Discurso sobre a Origem da Desigualdade,[3] publicado em 1755. Ele defende que a razão seria a origem da degradação da humanidade, uma vez que teria sido ela o principal motivo para a saída do homem do Estado natural. Depois de seu raciocínio ter se aprimorado, de acordo com Rousseau, o homem passou a se sentir insatisfeito com sua condição primitiva, e trabalhou em melhorias que culminariam nas revoluções neolítica e metalúrgica.

Contudo, estes avanços levariam a uma quantidade exorbitante de riqueza; por sua vez, esta levaria à necessidade dos direitos de propriedade, o que geraria inimizade geral dentro da espécie humana. Paralelamente, o luxo conduziria as classes superiores à degradação e fraqueza física. Como um todo, de acordo com Rousseau, os avanços da civilização motivados pela razão colaboraram apenas para tornar a humanidade covarde, preguiçosa e corrupta, tanto que nenhuma reforma civilizatória seria possível – apenas a revolução. Podemos ver assim, como os pensamentos de Rousseau foram utilizados como inspiração tanto pelos radicais jacobinos quanto pelos contra iluministas.[2]

O anti-iluminismo persistiu até o século XX, tendo estado em declínio desde a década de 1870, quando teve início a III República Francesa e a Igreja Católica perdeu o último dos Estados Papais, abrindo espaço para a República da Itália. Durante o início do século XX, porém, ideias nacionalistas conservadoras se ligaram aos nascentes movimentos de extrema direita, criando um pensamento sintetizado pelo francês Charles Maurras; mais tarde, suas ideias seriam consideradas como a base ideológica do fascismo.[2]

Embora o primeiro uso conhecido do termo em inglês (Counter-Enlightenment) tenha ocorrido em 1949 e tenha havido vários usos anteriores dele,[4] incluindo um pelo filósofo alemão Friedrich Nietzsche,[5] o termo "contrailuminismo" é geralmente associado a Isaiah Berlin, que muitas vezes é creditado por reinventá-lo. A discussão desse conceito começou com o Ensaio de 1973 de Isaiah Berlin, The Counter-Enlightenment.[6] Ele publicou amplamente sobre o Iluminismo e seus desafiadores e fez muito para popularizar o conceito de um movimento contrailuminista que ele caracterizou como relativista, antirracionalista, vitalista e orgânico,[7] que ele associou mais intimamente ao Romantismo alemão.

  1. Berlin, Isaiah (2000). The proper study of mankind : an anthology of essays. Henry Hardy, Roger Hausheer First Farrar, Straus and Giroux paperback edition ed. New York: [s.n.] OCLC 45165171 
  2. a b c «Contra-iluminismo - Filosofia». InfoEscola. Consultado em 15 de junho de 2021 
  3. «Domínio Público - Pesquisa Básica». www.dominiopublico.gov.br. Consultado em 15 de junho de 2021 
  4. listed by Henry Hardy in the second edition of Isaiah Berlin, Against the Current: Essays in the History of Ideas (Princeton University Press, 2013), p. xxv, note 1.
  5. Garrard, Graeme (2008). «Nietzsche For and Against the Enlightenment». The Review of Politics (em inglês) (4): 595–608. ISSN 0034-6705. doi:10.1017/S0034670508000788. Consultado em 15 de junho de 2021 
  6. 1965-, Garrard, Graeme (2006). Counter-enlightenments : from the eighteenth century to the present. Abingdon [England]: Routledge. ISBN 0203645669. OCLC 62895765 
  7. Aspects noted by Darrin M. McMahon, "The Counter-Enlightenment and the Low-Life of Literature in Pre-Revolutionary France" Past and Present No. 159 (May 1998:77–112) p. 79 note 7.

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