Estranhamento

Estranhamento ou ostranenie (остранение) foi um termo utilizado pelo formalista russo Viktor Chklovski em seu trabalho “Iskusstvo kak priem” (“A Arte como processo”) ou ("A Arte com procedimento"), publicado pela primeira vez em Poetika (1917). Este artigo está publicado em português na coletânea Teoria da literatura: formalistas russos (Porto Alegre, 1971; São Paulo, 2013) e em Todorov (Lisboa, 1999).

O conceito nasce das discussões entre os formalistas russos com as idéias do crítico ucraniano Aleksandr Potebnia ou Oleksander Potebnia (1835–91) sobre a função da arte na sociedade e a mimesis. Potebnia afirmava que “As imagens não têm outra função senão permitir agrupar objetos e acções heterogéneas e explicar o desconhecido pelo conhecido”. Segundo o Poetbnia a arte apresentava o desconhecido como referência da natureza conhecida pelo homem (in Chklovski em “A arte como processo”, em Teoria da Literatura I: Textos dos Formalistas Russos apresentados por Tzvetan Todorov, Edições 70, Lisboa, 1999, p.75).

Para Chklovski, ao contrário, “A finalidade da arte é dar uma sensação do objecto como visão e não como reconhecimento; o processo da arte é o processo de singularização ostranenie - (estranhamento) dos objectos e o processo que consiste em obscurecer a forma, em aumentar a dificuldade e a duração da percepção. O acto de percepção em arte é um fim em si e deve ser prolongado; a arte é um meio de sentir o devir do objecto, aquilo que já se ‘tornou’ não interessa à arte.” (ibid., p.82).

O estranhamento para Chklovski seria então o efeito criado pela obra de arte literária para nos distanciar (ou estranhar) em relação ao modo comum como apreendemos o mundo e a própria arte, o que nos permitiria entrar numa dimensão nova, só visível pelo olhar estético ou artístico.

Conforme esclarece Carlos Ceia, O termo é de difícil tradução: a palavra original, ostranenie, não existe na língua russa (quer como substantivo, ostranenie, quer como verbo, ostranit’; a palavra russa para “estranhar” é otstranit). Maiores detalhes sobre o termo russo podem ser acompanhados na introdução de Gerald L. Burns a Theory of Prose (Dalkey Archive Press, Illinois, 1998).


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