Macrocosmo e microcosmo

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De Robert Fludd, Utriusque cosmi historia, Oppenheim/Frankfurt, 1617–1621.

A analogia microcosmo-macrocosmo (ou, equivalentemente, analogia macrocosmo-microcosmo) refere-se a uma visão histórica que postulou uma semelhança estrutural entre o ser humano (o microcosmo, ou seja, a pequena ordem ou o pequeno universo) e o cosmos como um todo (o macrocosmo, ou seja, a grande ordem ou o grande universo).[1] Dada essa analogia fundamental, verdades sobre a natureza do cosmos como um todo poderiam ser inferidas de verdades sobre a natureza humana e vice-versa.[2]

Um importante corolário dessa visão é que o cosmos como um todo pode ser considerado vivo e, portanto, ter uma mente ou alma (a Alma do Mundo), uma posição avançada por Platão em seu Timeu.[3] Além disso, essa mente ou alma cósmica era frequentemente considerada divina, principalmente pelos estoicos e por aqueles que foram influenciados por eles, como os autores da Hermética.[4] Consequentemente, às vezes se inferia que a mente ou alma humana também era de natureza divina.

Além dessa importante aplicação psicológica e noética (isto é, relacionada a Nous), a analogia também foi aplicada à fisiologia humana.[5] Por exemplo, as funções cosmológicas dos sete planetas clássicos às vezes eram consideradas análogas às funções fisiológicas dos órgãos humanos, como o coração, o baço, o fígado, o estômago, etc.[6]

A visão em si é antiga e pode ser encontrada em muitos sistemas filosóficos em todo o mundo, como por exemplo na antiga Mesopotâmia,[7] no antigo Irã[8] ou na antiga filosofia chinesa.[9] No entanto, os termos microcosmo e macrocosmo referem-se mais especificamente à analogia conforme foi desenvolvida na filosofia grega antiga e seus descendentes medievais e modernos. Ela perpassou por doutrinas do esoterismo ocidental e oriental como a magia, alquimia e astrologia, além de sistemas de medicina e psicologia.[10][11]

No uso contemporâneo, os termos microcosmo e macrocosmo também são empregados para se referir a qualquer sistema menor que seja representativo de um sistema maior e vice-versa.

  1. Os termos microcosmo e macrocosmo derivam do grego antigo μικρός κόσμος (mikrós kósmos) e μακρός κόσμος (makrós kósmos), o que pode significar "pequeno universo" e "grande universe", mas cujos sentidos primários são "ordem menor" e "ordem maior", respectivamente (cf. Allers 1944, pp. 320-321, nota 5).
  2. Sobre o macrocosmo e microcosmo em geral, ver, p. ex., Conger 1922; Allers 1944; Barkan 1975.
  3. Ver Olerud 1951.
  4. Sobre os estoicos, ver Hahm 1977, 63ff.; sobre a Hermetica, ver Festugière 1944–1954, vol. I, pp. 92-94, 125-131.
  5. See, e.g., Kranz 1938, pp. 130–133.
  6. Ver o desenho mostrado à direita, que correlaciona o sol (considerado como um planeta no modelo geocêntrico) com o coração.
  7. Svärd & Nokso-Koivisto 2014.
  8. Götze 1923; Duchesne-Guillemin 1956.
  9. Raphals 2015–2020.
  10. Nicola, Ubaldo (1999). Illustrated Atlas of Philosophy. Giunti Editores. p. 224
  11. Djurdjevic, Gordan (2014). «A Web of Relations: Interpreting Indian Yoga and Tantra as Forms of Esotericism». In: India and the Occult. Nova Iorque: Palgrave Macmillan. p. 21-33.

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