Reforma Inglesa

A Reforma Inglesa (ou Reforma anglicana) foi uma série de eventos ocorridos no século XVI através dos quais a Igreja da Inglaterra rompeu com a autoridade do Papa e a Igreja Romana. Está associada com o processo mais amplo da Reforma Protestante, um movimento político-religioso que afetou as práticas da fé cristã em todo o continente europeu. Muitos fatores contribuíram para esse processo, como o declínio do feudalismo e a ascensão do nacionalismo, o advento do Direito comum, a invenção da prensa móvel por Gutenberg e o consequente aumento do número de Bíblias disponíveis, a difusão de conhecimento e novas idéias entre acadêmicos, as classes média e alta e os leitores em geral. Entretanto, a Reforma Inglesa — que também abrangeu o País de Gales e a Irlanda — foi em grande parte impulsionada por mudanças na política do governo inglês, às quais a opinião pública foi gradativamente se acostumando.

Tendo como base o desejo do rei Henrique VIII em anular seu casamento com Catarina de Aragão (negado pelo Papa Clemente VII em 1527), a Reforma Inglesa começou mais como uma disputa política do que teológica. As diferenças políticas entre Roma e a Inglaterra permitiram que os atritos teológicos já existentes se tornassem ainda maiores.[1] Até o rompimento com Roma era o Papa e os concílios gerais da Igreja que decidiam a doutrina. A Igreja da Inglaterra era governada pelo código de direito canônico com jurisdição final em Roma. As contribuições à Igreja eram pagas diretamente a Roma e o Papa tinha a palavra final na nomeação dos bispos.

O rompimento com a Igreja de Roma entrou em efeito através de uma série de atos do Parlamento aprovados entre 1532 e 1534, dentre os quais o Ato da Supremacia, que declarava o rei Henrique VIII como "Chefe Supremo da Igreja da Inglaterra na Terra".[2] Maria I renunciou a este título em 1553, quando restaurou a jurisdição papal; mais tarde, em 1559, Elizabeth I reafirmou a supremacia real sobre a Igreja ao adotar o título de "Governadora Suprema da Igreja da Inglaterra".[2] A autoridade final em disputas doutrinais e legais agora pertencia ao monarca e o papado foi privado da arrecadação da Igreja e da palavra final na nomeação dos bispos.

A teologia e a liturgia da Igreja da Inglaterra se tornaram marcadamente protestantes durante o reinado de Eduardo VI, filho de Henrique, graças às regras estabelecidas por Thomas Cranmer, então arcebispo de Cantuária. Sob Maria I, o processo de reforma foi revertido e a Igreja da Inglaterra foi novamente submetida à jurisdição papal. Em seguida, Elizabeth I reintroduziu a fé protestante, mas de uma maneira mais moderada. A estrutura e a teologia da Igreja tornaram-se alvo de uma disputa feroz durante gerações. O aspecto violento dessas disputas, manifestado durante a Guerra Civil Inglesa, acabou quando o último monarca católico, Jaime II foi deposto e o Parlamento pediu a Guilherme III e Maria II que governassem em conjunto. Além disso, após a edição da Declaração de Direitos de 1689 (durante a Revolução Gloriosa) emergiu uma política eclesiástica com uma igreja estabelecida e um número de pequenas igrejas independentes cujos membros, num primeiro momento, sofreram uma série de perseguições civis que acabaram ao longo do tempo. O legado do antigo status quo católico permanece uma questão de discussão ainda hoje. Alguns fiéis permaneceram católicos e, como forma de forçá-los a adotar o sistema britânico, a Igreja deles permaneceu ilegal até o século XIX.

  1. Roger Scruton, A Dictionary of Political Thought (Macmillan, 1996), p. 470.
  2. a b Bray Gerald (ed). Documents of the English Reformation. James Clarke & C°: Cambridge. p. 115

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