Scriptorium

Iluminura do século XII representando a torre e o scriptorium do mosteiro de São Salvador de Tábara, na Espanha

Scriptorium (AFI: [scriptorium] ouvir) (no plural scriptoria) é o espaço onde os livros manuscritos eram produzidos na Europa durante a Idade Média. Ainda é incerta a origem dessa acepção da palavra e se sabe que, ao longo da história, diferentes usos foram dados para o termo: ele chegou a designar as ferramentas de escrita, o local de produção, o conjunto de uma obra, uma coleção de livros de algum monastério — o que mostrava sua proximidade com as bibliotecas — ou ainda mesas de trabalho associadas à atividade escriturária. Até meados do século XI, os scriptoria, enquanto espaços de produção livreira, eram encontrados dentro das catedrais e monastérios. Acredita-se que apenas as instituições que contavam com boas condições materiais poderiam ter um número suficiente de monges ou freiras empenhados na escrita, de tal forma que trabalhos necessários para a sobrevivência da instituição monástica, como a agricultura e a criação de animais, não fossem prejudicados por falta de pessoas. Porém, a partir do renascimento do século XII, com o desenvolvimento do ambiente urbano e o surgimento das universidades, a importância das instituições eclesiásticas na produção de conhecimento foi descentralizada. No mesmo período, catedrais, abadias e conventos passaram a compartilhar o protagonismo na produção manuscrita com ambientes mais laicos ou corteses. Isso ocorre na Península Ibérica, quando Afonso I de Portugal e Afonso X de Leão e Castela contavam com equipes de amanuenses que trabalhavam para coordenar, pela palavra escrita, os projetos políticos e culturais de seus respectivos reinos.

Para que os amanuenses pudessem escrever eram necessárias diversas ferramentas e produtos: a pedra-pomes, que servia para polir o pergaminho; as penas, que serviam como ferramenta para escrever; e as tintas, que deixavam as marcas da escrita sobre os pergaminhos. As etapas da produção do livro na Idade Média iam desde a criação de animais para retirada do couro, que passaria por diversos procedimentos até virar um pergaminho, até intervenções que o transformariam em um suporte apropriado para a escrita. As tintas também deveriam ser produzidas. Depois que as tintas, a pena e o pergaminho estivessem prontos, um ou mais copistas poderiam trabalhar na escrita de um manuscrito. A produção era coordenada por algum monge ou freira, chamados geralmente de "bibliotecários", pois teriam acesso à biblioteca e escolheriam os livros a serem copiados. As produções ainda deveriam contar com um copista, que escrevia e delimitava os espaços destinados à escrita, às iluminuras, miniaturas e rubricas. Esta cadeia de produção dos manuscritos, junto ao desenvolvimento urbano e cultural a partir do século XII, passou por transformações que a integraram no mercado do livro, ligado à criação e comércio do pergaminho. A partir do século XIII, o mercado do livro integrado nas rotas de comércio faz circular desde o mundo muçulmano a invenção chinesa do papel, que era mais barato e tinha uma produção menos penosa.

Nos scriptoria, trabalhavam monges e freiras copistas, alguns dos quais ficaram conhecidos por conta de seus trabalhos e são estudados e recuperados nos dias de hoje. Atualmente, nomes como Florêncio de Valeranica, Herrard de Landsberg e Cristina de Pisano são considerados artistas por conta de seus trabalhos como iluminadores, compiladores e escritores de manuscritos no medievo. Porém, nem só de lindas obras e reconhecimento viviam os amanuenses: os erros que cometiam, em razão do penoso trabalho, aliados a diversos outros motivos, rondavam aqueles que trabalhavam escrevendo. Estes erros, inclusive, foram considerados como obra de um demônio conhecido como Titivillus, que assombrava os copistas, induzindo-os a erros que, por vezes, eram bastante embaraçosos.

Os scriptoria desenvolveram-se até chegarem aos locais de produção dos mais diversos produtos feitos em conjunto, como é o caso dos ateliês, onde uma ou mais pessoas organizavam a produção de manufaturados, como pinturas e obras de arte. Também há menções aos scriptoria na cultura popular: filmes, seriados e animações ainda inspiram-se nos mistérios dos scriptoria medievais, tal sua importância para o acesso atual ao conhecimento escrito dos tempos mais antigos da história.


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